Segundo Daniel e Cravo (2005) "a seleção [...] e a proibição de certos alimentos existem em todos os grupos sociais e são norteados por regras sociais diversas, carregadas de significações."[1] Algumas dessas significações, de acordo com Tassara (2006) são símbolos.
"Os alimentos simbolizam costumes, culturas, estados emocionais, relações sociais e certamente muitas outras coisas"[2]
Além de significações individuais, Daniel e Cravo (2005) ainda defendem que "[...] o modo de preparar e servir certos alimentos exprime identidades sociais, confirmando assim o caráter simbólico da comida."[3] O ser humano "depende de crenças para construir sua identidade pessoal, familiar e cultural"[4] e algumas dessas crenças são refletidas nas relações individuais e sociais com a comida.
Portanto, a comensalidade permeia todas as relações sociais nas sociedades humanas, bem como nas diferentes classes sociais de uma mesma sociedade, apresentando sempre uma dimensão cultural.[5]
Em ambientes familiares, de acordo com a "perspectiva sistêmica, o fenômeno transgeracional trata de valores e crenças que são compartilhados com as gerações posteriores das famílias, apoiando-se em mitos familiares que configuram as histórias dos grupos estudados"[6]. Ainda, ajudam, na visão de Ruiz Correa (2000 apud. Lisboa, Feres-Carneiro, Jablonski, 2007) a "reafirmar uma aliança social, valendo-se da prática do sentimento de pertença, em que o “nós” possa ser praticado"[7].
A transmissão intergeracional permite continuar a identidade de uma família através de um legado estruturante de rituais e mitos, por exemplo, no qual
Cada família tem uma vida cotidiana com um estilo de “estar junto”[8] [...] garantindo formas de expressão e de comunicação dos afetos, das lembranças e da história propriamente dita através das gerações. Ainda, estes processos são constituídos por práticas sociais carregadas de simbolismo
Nessa perspectiva apontada por Coelho (2005 apud. Tassara, 2006)
É a família o principal agente socializador, pois o sujeito só internaliza o sistema simbólico por meio da identificação afetiva com os agentes significativos, isto é, aprende como eles se inserem na sociedade e como a reproduzem, como são, como exercem seus papéis.[9]
Referências bibliográficas
DANIEL, Junbla Maria Pimentel; CRAVO, Veraluz Zicarelli. Valor Social e Cultural da Alimentação. In: CANESQUI, Ana Maria; GARCIA, Rosa Wanda (org.). Antropologia e Nutrição: um diálogo possível. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2005. P.57-68.
LISBOA, Aline Vilhena; FERES-CARNEIRO, Terezinha; JABLONSKI, Bernardo. Transmissão intergeracional da cultura: um estudo sobre uma família mineira. Psicol. estud., Maringá, v. 12, n. 1, abr. 2007. Disponível em: «http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722007000100007&lng=en&nrm=isso». Acesso em 01 abr. 2010. Doi: 10.1590/S1413-73722007000100007.
TASSARA, Valéria. Obesidade na infância no contexto sociofamiliar: possibilidades de (des)construção e (res)significação de identidades (pré)escritas. Faculdade de Medicina/UFMG, Belo Horizonte, 2006. Dissertação. Disponível em «http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/». Acesso em 17 mar. 2010. 137pp.
[1] DANIEL & CRAVO, 2005. P.57.
[2] Fonseca et. al. 2001 apud. TASSARA, 2006. P.51-52.
[3] DANIEL & CRAVO, 2005. P.57.
[4] TASSARA, 2006. P.69.
[5] DANIEL & CRAVO, 2005. P.61.
[6] MARQUES, 2000 apud. TASSARA, 2006. P.69.
[7] RUIZ CORREA, 2000 apud. LISBOA, FERES-CARNEIRO, JABLONSKI, 2007. P.54.
[8] LISBOA, FERES-CARNEIRO, JABLONSKI, 2007. P.53.
[9] COELHO, 2005 apud. TASSARA, 2006. P.70.
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